Bruna Marquezine, Malu Mader, Sérgio Guizé e Preta Gil fazem campanha para Lula - Reprodução/ alinnemoraes |
FOLHA - "A Fátima Bernardes virou o voto da minha mãe e da minha avó!". "Minha mãe mandou o vídeo da Fátima no grupo do zap e já virou dois votos". "Fátima virou os votos de todas as mulheres de meia idade, agora vai dar Lula com 70%!"
Mensagens como esta se espalharam pelo Twitter na tarde de sábado (1º), depois que a apresentadora Fátima Bernardes fez algo inédito em sua carreira: divulgou um vídeo explicando por que escolheu votar em Lula no primeiro turno.
A notícia causou um impacto imediato. Aqui no F5, ainda é a terceira mais lida no momento em que escrevo esta coluna, na manhã de segunda (3). Nem era para menos: Fátima tem uma enorme credibilidade, seus argumentos são sólidos e ela nunca havia se manifestado politicamente antes.
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Não foi a única. Angélica também declarou voto em Lula, para surpresa de muita gente –afinal, ela é casada com Luciano Huck, que já foi muito crítico ao ex-presidente. Xuxa foi outra. Ivete Sangalo também deixou de ser isentona e engrossou o coro de cantoras a favor do petista, ao lado de Anitta, Pabllo Vittar, Ludmilla, Duda Beat, Luísa Sonza e muitas outras.
Ciristas históricos como Caetano Veloso, Tico Santa Cruz e Fábio Porchat abandonaram o candidato do PDT e aderiram ao voto útil em Lula, na tentativa de elegê-lo presidente logo no primeiro turno.
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Juntaram-se a uma lista caudalosa de artistas, influenciadores e jornalistas, muito mais longa que a dos que apoiam a reeleição de Bolsonaro: Taís Araújo, Lázaro Ramos, Paolla Oliveira, Felipe Neto, Rachel Sheherazade, Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank, Camila Pitanga e até mesmo Marcelo Serrado, um entusiasta da operação Lava-Jato quatro anos atrás.
Cada um desses nomes ganhou as manchetes na hora em que declarou seu voto, e enorme repercussão nas redes sociais. Parecia que estava se formando um tsunami em favor do ex-presidente, capaz de convencer os indecisos e os eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet a votar em Lula.
Não foi bem isto o que aconteceu. Lula teve uma votação expressiva, mas insuficiente para liquidar a fatura no primeiro turno: 48,4% dos votos válidos, dentro da margem de erro dos principais institutos de pesquisa. As celebridades devem mesmo ter virado vários votos, mas não o bastante.
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Porque existe um público imenso que não só resiste a elas como também, aparentemente, aos fatos. Jair Bolsonaro teve 43,2% dos votos válidos, muito mais do que o previsto. Em termos numéricos, recebeu mais votos do que no primeiro turno de 2018 –ou seja, ganhou eleitores, mesmo tendo atrasado a compra de vacinas, incentivado a destruição da Amazônia e trazido o Brasil de volta ao mapa da fome.
Esse resultado leva a duas conclusões. A primeira é que a ideologia, pelo menos neste momento, é mais forte do que a realidade. A "luta entre o bem e o mal" parece ter repercutido muito mais entre boa parte do eleitorado do que dados concretos como a inflação e as mortes na pandemia.
A segunda é que a classe artística tem muito menos influência do que aparentava e ainda sofre com a demonização que sofreu nos últimos anos. Muitos eleitores acreditam que quase todos os artistas queiram viver pendurados nas tetas do governo, uma campanha de desinformação muito bem-sucedida.
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O poder de convencimento dos famosos também empalidece se comparado ao das igrejas evangélicas. Ainda não há pesquisas sobre o assunto, mas o senso comum indica que a adesão incondicional de muitas denominações religiosas ao bolsonarismo foi crucial para o bom desempenho do presidente.
Agora teremos segundo turno, e é de se esperar que ainda mais artistas, atletas, youtubers e similares se engajem na campanha de Lula. Outros tantos declararão apoio a Bolsonaro, agora sem a vergonha que existia antes. Mesmo assim, é para lá de duvidoso que qualquer um deles faça alguma diferença.
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Já sabíamos há algum tempo que a fama não garantia que alguém fosse eleito, haja vista a quantidade de ex-BBBs, atores pornô, subcelebridades e até mesmo atores consagrados (alô, Lucélia Santos) que fracassaram em suas tentativas de engatar uma carreira política.
Agora ficou claro que até mesmo o poder de convencimento da classe artística é relativamente limitado. O Brasil mudou, e ainda não sabemos direito para onde.