Por Ricardo Miranda, em seu blog– Em outubro de 2014, encerrada a votação que consagraria Dilma Rousseff presidente reeleita do Brasil, Aécio Neves, ainda movido por uma chama ética, falou sobre a sua derrota cercado de correligionários e puxa-sacos. É sempre interessante relembrar as palavras de Aécio logo após o pleito de 2014 (Reveja o insuspeito boletim eleitoral da Globo). “Combati o bom combate”, disse. Em novembro, falava em “oposição incansável e intransigente”. Logo depois, o mineiro e seu partido mudariam a estratégia, pediriam recontagem dos votos e anunciariam uma auditoria – que concluiu que não houve fraude. Era só uma senha. Em dezembro, Aécio diria à Globo que não foi derrotado por um partido político, e sim por uma “organização criminosa”. Olha a Lava Jato aí, gente! – Lula está preso e Aécio soltinho, só para lembrar. O PSDB, como reconheceu Tasso Jereissati recentemente, ainda paga o preço de não aceitar o resultado do pleito de 2014, trabalhar para derrubar Dilma, boicotando-a no Congresso, e depois apoiar o governo Temer. Dia 28 de setembro, quase outubro de 2018. Bolsonaro, projeto de ditador, incentiva o golpismo ao perceber que vai para o segundo turno com o petista Fernando Haddad, em desvantagem – ele decai, o adversário arranca.
“Não aceito resultado diferente da minha eleição”, afirmou Bolsonaro, “mito” do PSL, em entrevista em seu quarto no hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde está internado desde o começo do mês. O entrevistador, escolhido a dedo, foi José Luiz Datena, do programa de televisão Brasil Urgente, da TV Band – a Band de Boechat, de Mitre, que se prestou a isso (Assista se tiver estômago). Bolsonaro deveria ter tido alta, não teve. Nada melhor que, diante do vice boquirroto e da capa de Veja, corroendo sua reputação e sua candidatura, inventasse um “Bolsonaro na UTI Exclusivo”. Bolsonaro é o Aécio hoje, só que com clarevidência e apoio militar. Não por acaso citou os “comandantes militares” como testemunhas – praticamente avalistas – de sua candidatura. A irresponsabilidade disso é tão grave que transforma o mal perdedor Aécio numa freira carmelita descalça. Não aceitar o resultado das urnas, e convocar os militares em sua defesa, é um escancarado apelo pela não aceitação do resultado legítimo das urnas, consequentemente da reação golpista. Se isso não tiver uma reação à altura, inclusive da Justiça Eleitoral, estaremos todos não apenas desmoralizados, mas perdidos. Preparem-se porque o pior pode estar por vir. E isso não é história de bruxa.
Uma nota de rodapé – só força de expressão – que mostra a gravidade da situação. Nesta sexta, 28, à noite, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) afastou temporariamente das funções um juiz que, segundo a Advocacia-Geral da União (AGU), pretendia determinar que o Exército recolhesse urnas eletrônicas na véspera das eleições. De acordo com a AGU, o juiz Eduardo Luiz Rocha Cubas, do Juizado Especial Federal Cível de Formosa (GO), pretendia conceder uma liminar em uma ação popular que questiona a segurança e a credibilidade das urnas. Há poucos dias, o tal juizeco de Formosa deu uma “entrevista” sobre candidaturas avulsas ao filho de Jair Bolsonaro, Eduardo. Cubas falava na condição de presidente da Unajuf – União Nacional dos Juízes Federais – que, pasmem, colocou em seu site uma nota de solidariedade a Bolsonaro (Leia) e defendeu, numa campanha chamada “Por um Brasil Melhor”, candidaturas “não políticas e partidárias” e sim “candidaturas cívicas”.
Acredita em bruxas agora?
Do site Brasil 247